Depois de um período de paragem, as sessões do clube leitura "Assim de repente...", da Escola Superior de Educação de Viseu, retomaram com o regresso para o segundo semestre.Neste mês de fevereiro, voltámos a encontrar-nos para nos atualizarmos sobre os planos para o futuro e para voltarmos a partilhar experiências de leitura.

Para a primeira sessão do segundo semestre, foi proposta uma dinâmica que tinha como objetivo experimentar novas formas de leitura e partilhar leituras que proporcionaram momentos de prazer.

Cada um dos participantes levou um livro para emprestar a outro, que representasse uma experiência memorável. Na sessão, cada um escreveu o seu nome num papel e, por fim, foram retirados os papéis, tendo cada um ficado com o livro levado pela pessoa cujo nome estivesse escrito no papel retirado.

Agora, resta apenas que cada um dos participantes leia o livro que lhe foi atribuído e participe numa futura sessão para relatar a sua experiência!

A sessão do dia 26 de Janeiro de 2025 trouxe à superfície o gesto de insubordinação e de liberdade que foi a publicação das Novas Cartas Portuguesas, em 1972, da autoria das «três Marias» - assim conhecidas internacionalmente, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa - sessão apresentada pela professora Cristina Firmino Santos, docente no Departamento de Linguística e Literaturas, na Universidade de Évora.

Marco na produção da Literatura Portuguesa no século XX, num período de ditadura e, como tal, sofrendo as consequências desse regime. O título advém das Lettres Portugaises, romance epistolar de tema amoroso exacerbado, publicado no século XVII, que trata das cinco cartas redigidas por uma freira portuguesa de nome Mariana Alcoforado, enclausurada no Convento em Beja. Este foi o mote para que as novas cartas se redigissem, partindo de conversas entre as três mulheres, requerendo outros olhares sobre a condição feminina e não só: todas as formas de repressão e dominação em sentidos diversos e dirigido a todos aqueles que se sentissem diminuídos e ostracizados na sociedade, não sendo por acaso que algumas das cartas abordem episódios que tratam a Guerra Colonial através de personagens masculinas que redigem as cartas em primeira pessoa e que compõem o retrato sociopolítico, de uma teia criativa tecida a seis mãos.

Porquê Mariana Alcoforado? O desafio de reescrever o mito cultural? Porventura representação da mulher portuguesa ao longo dos tempos, desdobrando-se em variantes, em cartas de sobrinhas e afilhados de Mariana, de gerações posteriores que dão continuidade à figura e lutam contra o esquecimento.

Para quem não teve a oportunidade de assistir a esta sessão, deixamos a sugestão da visualização do documentário O Que Podem as Palavras (2022), produzido por Luísa Marinho e Luísa Sequeira, com participação da escritora Ana Luísa Amaral, falecida em 2022, sendo esta responsável pela organização da mais recente edição da obra, publicada pela editora D. Quixote, em 2010.

Recordamos, mais uma vez, o grande pesar pela perda recente, no dia 4 de fevereiro de 2025, da escritora Maria Teresa Horta e por coincidência calendarizada para este mês.

Agradecemos a todos os presentes e esperamos poder continuar a contar convosco.

Recordamos a sessão do Clube de Leitura, ocorrida no dia 18 de Dezembro de 2024, apresentada pelo escritor Mário Máximo que nos falou do livro O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro, originalmente publicado no ano de 1973 - ano anterior à Revolução do 25 de Abril de 1974 - autoria de Natália Correia, personalidade com quem Mário Máximo conviveu, trazendo-nos memórias suas, em primeira pessoa, através de um comentário longo sobre toda a vida e obra da escritora.

A edição original foi consultada por Mário Máximo que de propósito se deslocou à Biblioteca Nacional de Portugal, em sala de acesso reservado, trazendo-nos algumas fotografias de uma edição que apenas conheceu 300 exemplares, ilustrada com seis desenhos originais da escritora, «quadros de um erotismo notável» na atribuição do orador que chegou a presenciar uma exposição da autora no Botequim, bar aberto por Natália Correia, «ponto nevrálgico da tertúlia lisboeta e da conspiração política» [para os curiosos, deixamos um link informativo: https://amensagem.pt/.../estamos-ha-30-anos-sem-natalia.../].

Contou-nos Mário Máximo que se a Natália Correia não estivesse presente no Botequim, logo o ambiente perdia a intensidade. Por lá passaram os capitães de Abril, também aqueles de Novembro, Mário Soares, Francisco Sá Carneiro - de políticos a escritores, músicos, artistas de toda a ordem e lugar.

«A obra de Natália Correia não se enquadra em nenhuma escola específica (...) há uma entrega orgástica à poesia na língua portuguesa sem dominadores de auto-domínio em que o prazer da criação está no "itinerário é interior". Natália era essa surpresa de escrever e viver. Revolução permanente existencial, narcísica no seu corpo feminino.»

Sobre o livro de poemas em questão, Mário Máximo classificou-o enquanto obra surreal, um todo coerente que resulta da estratégia poética de quem se sabe condenado, carregado de simbologias alemãs de tom irónico, obrigando o leitor a internar-se num estado de interpretação, de advinhação dos significados.

Fica a questão: Seria Natália Correia um Anjo Lapidário?

Agradecemos desde já a presença e grande contribuição do escritor Mário Máximo e a todos aqueles que estiveram presentes. Deixamos um vídeo, uma pequena prenda nesta quadra natalícia, onde a aluna Beatriz Santana declamou o poema "Metropolis".

Um bem haja a todos e a todas!

No dia 24 de fevereiro, o Núcleo de Literatura da FCT NOVA teve a oportunidade de assistir à peça 1984, uma produção da sociedade artística Artistas Unidos, apresentada no Centro Cultural de Belém. A atividade envolveu 10 participantes e foi financiada pelo Plano Nacional de Leitura, estando inserida no tema da liberdade, uma das questões centrais da obra de George Orwell que inspirou a peça. Já havíamos lido o livro em reuniões anteriores, nas quais explorámos as temáticas de opressão e luta pela liberdade. A ida ao teatro foi uma extensão dessa reflexão, permitindo-nos ver essas questões de forma viva e impactante no palco.

A peça começa de forma caótica, com o objetivo de expor as ideias principais do livro, apresentando os personagens e as suas motivações. Personagens entram e saem constantemente de cena, falando por cima uns dos outros. Após essa introdução, a narrativa adota uma forma mais tradicional, com um cenário que alterna entre a esquerda e a direita. À esquerda, encontra-se uma secretária, representando o local onde Winston escreve e a loja de velharias. À direita, uma mesa simboliza o espaço onde os trabalhadores do Ministério da Verdade se encontram, a cantina, a casa dos vizinhos de Winston e a sala de O'Brien.

A encenação foi inovadora e envolvente, com interpretações cheias de vigor. Destacou-se especialmente o ator que interpretou O'Brien, projetando uma presença de superioridade e requinte que se encaixou perfeitamente no personagem. A peça leva o público a sentir-se imerso num contexto político autoritário, emocionalmente violento e confuso, onde o medo e o amor se digladiam, criando um estado de autovigilância.

Esta adaptação, ao comprimir a cena principal de tortura, pode ser vista como mais benévola do que o livro, mas ainda assim, a experiência foi profundamente reflexiva e impactante. O design do palco e as interpretações não deixam de nos interpelar, criando uma experiência que vale muito a pena.

A nona sessão do Clube de Leitura das Bibliotecas NOVA FCSH realizou-se no dia 20 de fevereiro de 2025, pelas 16h00, no espaço Alunos da NOVA FCSH, no campus da Avenida de Berna.

Na sessão de fevereiro, a história de uma menina que vive num corpo de rapaz retratada em Maus Hábitos, que contém vários traços biográficos da própria autora, Alana Portero, foi o mote para uma discussão sobre liberdade individual e comportamentos sociais perante a diferença. Para esta discussão foi convidada Rita Paulos, consultora em Igualdade de Gênero e Diretora Executiva da Casa Qui, que estabeleceu novas perspetivas sobre a identidade e violência de género, tema transversal à obra escolhida, já vastamente traduzida para várias línguas, vencedora de várias distinções em Espanha e aplaudida pelo seu papel na visibilidade de pessoas transsexuais.