
A sessão do dia 26 de Janeiro de 2025 trouxe à superfície o gesto de insubordinação e de liberdade que foi a publicação das Novas Cartas Portuguesas, em 1972, da autoria das «três Marias» - assim conhecidas internacionalmente, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa - sessão apresentada pela professora Cristina Firmino Santos, docente no Departamento de Linguística e Literaturas, na Universidade de Évora.
Marco na produção da Literatura Portuguesa no século XX, num período de ditadura e, como tal, sofrendo as consequências desse regime. O título advém das Lettres Portugaises, romance epistolar de tema amoroso exacerbado, publicado no século XVII, que trata das cinco cartas redigidas por uma freira portuguesa de nome Mariana Alcoforado, enclausurada no Convento em Beja. Este foi o mote para que as novas cartas se redigissem, partindo de conversas entre as três mulheres, requerendo outros olhares sobre a condição feminina e não só: todas as formas de repressão e dominação em sentidos diversos e dirigido a todos aqueles que se sentissem diminuídos e ostracizados na sociedade, não sendo por acaso que algumas das cartas abordem episódios que tratam a Guerra Colonial através de personagens masculinas que redigem as cartas em primeira pessoa e que compõem o retrato sociopolítico, de uma teia criativa tecida a seis mãos.

Porquê Mariana Alcoforado? O desafio de reescrever o mito cultural? Porventura representação da mulher portuguesa ao longo dos tempos, desdobrando-se em variantes, em cartas de sobrinhas e afilhados de Mariana, de gerações posteriores que dão continuidade à figura e lutam contra o esquecimento.


Para quem não teve a oportunidade de assistir a esta sessão, deixamos a sugestão da visualização do documentário O Que Podem as Palavras (2022), produzido por Luísa Marinho e Luísa Sequeira, com participação da escritora Ana Luísa Amaral, falecida em 2022, sendo esta responsável pela organização da mais recente edição da obra, publicada pela editora D. Quixote, em 2010.
Recordamos, mais uma vez, o grande pesar pela perda recente, no dia 4 de fevereiro de 2025, da escritora Maria Teresa Horta e por coincidência calendarizada para este mês.
Agradecemos a todos os presentes e esperamos poder continuar a contar convosco.