
No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e do Dia Mundial da Poesia, foi promovida uma sessão especial dedicada ao tema da Liberdade no dia 21 de março. Contámos com a presença do poeta e dramaturgo Rui Xerez de Sousa, que nos brindou com a leitura de poemas inéditos, entre os quais se destacou "Sala 124" – um título que, inesperadamente, viria a estar em sintonia com a recepção do autor e a sua deslocação para a Sala dos Docentes (com a pompa e distinção - o autor merece!)
Não apenas regalados com poemas inéditos declamados na voz do autor, o poeta trouxe-nos a voz de outros escritores, como Eduardo Galeano ("O MEDO"), Miguel Torga ("A CONQUISTA"), Bertolt Brecht ("SENTE-SE... – N.º 10 dos Poemas Relacionados com o Manual para Habitantes de Cidades"), Rui Zink ("A INSTALAÇÃO DO MEDO", excertos), bem como poemas de García Lorca, Miguel Hernández, José Mário Branco, Golgona Anghel, António Lobo Antunes e José Saramago.
Os poemas foram recitados pelos alunos da Universidade de Évora, em coordenação com o autor, numa celebração que deu corpo e voz ao verdadeiro significado da Liberdade – a possibilidade de expressar e ouvir diferentes palavras, pensamentos e emoções.






Para aqueles que não puderam estar presentes, deixamos o poema do poeta Rui Xerez de Sousa, a quem expressamos o nosso sincero agradecimento:
"Lugar Certo"
I
É preciso estar no lugar certo. A hora
é de somenos importância. Existem circunstâncias em que
verdadeiramente importante
é não chegar a horas. Ainda assim,
não deves transparecer que o atraso se deve a qualquer tipo de desleixo.
Pelo contrário,
todos os minutos são preciosos
e devem obedecer ao mais rigoroso cálculo matemático.
Assim, aquando da tua entrada no salão dos funestos,
não ofuscarás os que, atravessados de luz, revelam propensão
genética e hereditária, para o brilho,
nem – factor essencial – interromperás a cerimónia. Importante
é saber habitar a sombra, domar a espera. Sorrir a quem se deve sorrir,
cumprimentar quem deve ser cumprimentado e
sobretudo
nunca cumprimentar
quem não deve ser cumprimentado.
Nada de conversas com quem não sabe estar calado.
Olha que neste baile do desprezo
existem regras de etiqueta.
Se a tudo isto somares uma espinha bífida
disposta a malabarismos
tens o futuro garantido a mendigar migalhas na mesa dos crescidos
com o teu babete de caça menor
e a boca suja. A boca sempre suja.
II
Mas não te preocupes, filho.
Andamos todos à míngua neste país de leprosos.
Caçadores furtivos de favores e moléstias,
palmilhamos a selva
à cata de patronos que nos salvem da escuridão.
A poesia que se foda
(que a vida não está para brincadeiras).
Olha que a eternidade é um prato de lesmas
servido em bandeja de estanho.
E ainda que a História não se grude a dedos peganhentos
as lesmas engordam.