Nesta segunda sessão do Clube de Leitura - O Repto das Palavras da Universidade de Évora contámos com a presença do escritor Paulo Faria que nos falou do seu quarto e mais recente romance Louvado Seja o Pesadelo (2024, Minotauro). Sobre a sua escrita, revelou que «Tudo o que escrevo tem uma matriz auto-biográfica» para, ao mostrar-nos uma foto de família, afirmar que «Nestas páginas todas, o que ando a fazer é a tentar falar com eles».
Revelou os quatro escritores fundamentais quando escreve: Franz Kafka e a Carta ao Pai (1919), documento que considera fundamental para compreendermos as relações entre um pai e um filho e disse-nos «O mundo no fundo é uma relação entre um pai e um filho»; Pier Paulo Pasolini e as Cartas Luteranas (1976), escritor que considera actual e que nestas cartas fala da linguagem das coisas e da importância que as primeiras imagens que observamos, ainda nos primeiros anos de vida, terão na forma como vemos o mundo; Didier Eribon e o livro Regresso a Reims (2009), onde Eribon conta as cenas macabras que assistiu na infância e, por último, Art Spiegelman e a novela gráfica Maus: a história de um sobrevivente (1991) que trata da história dos pais polácos de Spiegelman, a única forma que o autor encontrou de lidar com o pai foi pedir-lhe que conte a história de como sobreviveu aos campos de concentração, servindo à concepção desta obra.
Do muito que se disse, das referências auto-biográficas que nos permitiram conhecer mais da história pessoal de Paulo Faria - história essa que é também colectiva, em que a doença do Alzheimer serve a um mundo particular e se alastra à humanidade - este é um pequeno resumo, a que deixamos uma frase final proferida pelo autor: «A democracia é aquela em que o derrotado não perde a voz».
Todos os títulos dos seus livros são retirados de poemas, convocado o verso de Jorge Luís Borges, retirado do poema "Felicidade" «Louvado seja o pesadelo, que nos revela que podemos criar o inferno.».
Muito obrigada Paulo Faria!